O Fim do Mundo - Parte 3

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E aí, pessoal? Finalmente chegamos no terceiro post do blog - e a última parte sobre a minha aventura na Patagônia em Janeiro desse ano! Para quem perdeu os dois outros posts da série, pode ler aqui: parte 1 e parte 2 (:

Começamos a nossa viagem na Patagônia Chilena. Mas, como eu já mencionei antes, a Patagônia se estende pelo sul de dois países: o Chile e a Argentina. A última parte da nossa viagem, então, explorou a região conhecida como Patagônia Argentina, talvez a que sempre vem na nossa mente quando pensamos em termos gerais.

Eu já estava um ano mais velha quando saímos de Puerto Natales bem cedinho para pegar um ônibus de linha que faz o trajeto entre Natales e El Calafate, nosso próximo ponto de parada. O ônibus vai sempre lotado. Grupos de turismo se misturam com mochileiros, comerciantes e até mesmo moradores da região. A viagem é longa. Muito longa, quase cinco horas. E tão erma quanto aquela que eu já tinha feito entre Punta Arenas e Puerto Natales.

A verdade é que El Calafate fica num lugar muito esquisito. Eu venho repetindo esse termo, mas ela fica no meio do nada. Ao contrário da região da Última Esperança, que é bastante vazia mais ainda tem vegetação suficiente para sustentar a pecuária de ovinos (aliás, a semelhança dessa região toda com a Irlanda e as Ilhas Britânicas me deixa espantada até hoje, visto que estão em extremos diferentes do mundo), o caminho até El Calafate se caracteriza por quilômetros e quilômetros de deserto semi-árido.

Você sabia que há um deserto semi-árido no sul da Argentina? Eu também não, até ir para lá.

Não tem nada mesmo.

E então, de repente, depois de rodar e rodar, você atinge o Lago Argentino, que tem uma cor azul impressionante. A cidade de El Calafate fica em suas margens.

El Calafate e Glaciares Perito Moreno

Calafate é uma cidade pequena, mas bem estruturada. O hospital (que tive o desprazer de visitar com um dos meus passageiros, que tinha batido o dente no ônibus) funciona bastante bem e existem restaurantes, casas de câmbio, hotéis e até mesmo cassinos por ali. Nós ficamos num hotel-spa longe do centro, mas que foi um dos mais confortáveis que eu já tive o prazer de conhecer, o hotel Xelena, que ficava bem na beirada do Lago Argentino.

Uma curiosidade; a cidade é batizada a partir de uma flor amarelinha, o Calafate, que produz um fruto que é bastante aproveitado em toda região da Patagônia. O fruto, por sua vez, é roxo, é a partir dele são feitos cosméticos, doces e sucos. Em aparência, se parece muito com mirtilos ou blueberries que conhecemos, mas o gosto é bastante diferente. O calafate solta uma tinta roxa que mancha os dedos e a língua (:

A frutinha do Calafate, que dá nome à cidade. Parece um blueberry, né?


É estranho pensar que bem pertinho daquela cidade no meio de um deserto semi-árido podemos encontrar um parque glacial. E por mais que você tente compreender a geografia do local, tudo parece desconectado. Você pode tentar observar um mapa ou um modelo, mas é só estando ali que a coisa toda começa a fazer sentido.

A cor impressionante do Lago Argentino e um pouquinho dos Andes ao fundo (:


O Lago Argentino é um lago glacial enorme, formado pelo desgelo do campo de gelo sul. Um dos 48 glaciares, o que se rompe em um dos braços do Lago Argentino (Brazo Rico) é o que conhecemos como Perito Moreno (em homenagem a Francisco Moreno, o pesquisador que explorou a região no século XIX e participou nas disputas de fronteira entre o Chile e a Argentina).

Você não entendeu nada? Eu também não tinha entendido quando a nossa guia, um doce de menina cujo nome novamente me fugiu (desculpa, gente, são guias demais para uma pessoa só! hahaha) literalmente desenhou para a minha melhor compreensão.

Um campo de gelo é um remanescente da última Era Glacial. Nessa época, todos os vales do extremo sul da América, principalmente aqueles formados pelas montanhas da cordilheira dos Andes, estavam cobertos por um lençol de gelo. Com o passar do tempo e a retração do lençol de gelo, o que sobrou foi um campo de gelo, e esse, chamado de Campo de Gelo Sul, é o segundo maior campo de gelo extrapolar do mundo. É como se uma parte da Era Glacial ainda estivesse acontecendo.

Mas, como ela não está mais acontecendo e o mundo esquentou, aquilo que derreteu deu origem a lagos como o Llanquihue (que falamos no primeiro post) e o próprio Lago Argentino. E os glaciais marcam o ponto onde termina o campo de gelo e começa a água. Acho que no mapa abaixo dá para entender melhor a ideia toda.

O glacial perito moreno é o final do campo de gelo num dos braços do Lago Argentino


Agora, nada pode preparar o nosso coração para o que é estar pertinho de um glacial. Eu acho que vi poucas coisas mais impressionantes na minha vida. O gelo é azul. Bom, na realidade, o gelo é transparente, mas o reflexo de todo aquele gelo junto faz com que ele se torne completamente azul aos nossos olhos. E vale muito a pena enfrentar o frio e a caminhada longa pelo parque nacional para poder ver de perto o limite da Era Glacial com a nossa Era.



Acho que a foto mais bonita que eu tirei esse ano!

Depois de ficar muito impressionados com o glacial Perito Moreno (de verdade, olha como ele é lindo!), descobrimos outro passeio indispensável para se fazer na cidadezinha de El Calafate. Um pouquinho distante do centro, há um Museu do Gelo, bastante completo e cheio de informações importantes para a compreensão do glacial. E em seu subsolo, uma surpresa! Um icebar, ou bar de gelo, em português claro!


A visita precisa ser rápida - você só pode permanecer 30 minutos no bar, que está a uma temperatura média de -10ºC (pessoas com problemas cardíacos só podem permanecer dez ou quinze minutos) - mas nem por isso deixa de ser bastante divertida. Primeiro, porque é open - você realmente pode beber o que aguentar nesses 30 minutos! O barman faz o drink que você quiser dentro das opções oferecidas. Há também shots, para os mais corajosos. O legal é que tudo vem bem geladinho! :D

As cadeiras, mesas, o chão, o balcão, os copos, tudo é feito de gelo! O ambiente todo fica muito bonito refletindo as luzes estroboscópicas (vixe) e a música é bastante atual. É uma balada congelada. Só não é o lugar ideal para azaração, porque você é obrigado a colocar uma roupa prateada ridícula para te proteger do frio. Tem capuz, luva e tudo. Uma dica: não vá com sapatos de pano, porque eles sairão dali molhados!

Uma das esculturas de gelo no bar (:

Parece um sonho, de verdade!


Ushuaia e a Terra do Fogo

Depois de tomar umas no Glacio Bar, seguimos caminho para um dos pontos mais esperados da viagem! Muito embora o mais bonito já tivesse de fato ficado para trás, Ushuaia tinha toda uma ideia em volta de si que precisava ser desmistificada. Era, afinal, o fim do mundo! A última cidade da América no extremo sul, o último porto seguro antes da Antártida e a cidade mais ao sul do mundo!

A emoção de estar em pontos tão absurdos da terra é algo inexplicável. Muito embora eu não tenha achado Ushuaia a cidade mais bonita que visitei (apesar de, de novo, muito bem estruturada para o turismo) e não tenha me impressionado tanto com suas paisagens depois de Paine e Perito Moreno, havia duas coisas que eram especiais: era o final da América e, ao mesmo tempo, o inicinho da cordilheira dos Andes - lugar que foi palco de uma das minhas primeiras viagens internacionais.

Ali em Ushuaia se encontra o famoso Parque da Terra do Fogo, que é percorrido por um trenzinho metido a besta que tem o nome de Trem do Fim do Mundo. Não é nada perigoso, mas a ideia é divertida. Pegamos esse trem para percorrer o parque e ver os últimos pedacinhos de terra habitada da América.

Por que Terra do Fogo? Bom, para explicar isso, preciso voltar a falar do nosso amigo Fernando de Magalhães, aquele nosso português que estava meio bêbado durante as expedições que fez pela Espanha. Ele era bastante criativo. Além de achar que os índios da região eram gigantes sanguinários, ele, ao avistar bastante fumaça naquela ilha (ah, a Terra do Fogo é uma ilha, separada do continente pelo Estreito do próprio Magalhães), imaginou que estava prestes a encontrar uma emboscada para sua Armada.

A verdade é que os índios daquela ilha gostavam de andar peladões, mas para se protegerem do frio que faz na região (e como faz!), armavam grandes fogueiras. E o fumaceiro tomava conta da ilha inteira, como se a própria estivesse pegando fogo. Bom, talvez fosse mais fácil usar um casaquinho?

Não vimos fogo ou fumaça alguma no parque. Pelo contrário, muito frio e vento. Mas a parte excitante foi chegar no final da Rota 3, também conhecida como a Rota Panamericana, que atravessa de norte a sul todo o continente americano, terminando lá no Alaska. Tive a oportunidade de cruzar com a Panamericana quando visitei o Peru, mas isso fica para outro post!

Quase 20.000km até o outro extremo do continente. Será que ainda vou?

Nada muito excitante entre mim e a Antártida... Tirando que não há nada entre nós!


Obrigada por acompanharem a minha série sobre a Patagônia, um dos lugares mais bonitos que eu tive o prazer de conhecer. Espero que tenham aprendido alguma coisa! É claro que nada disso teria sido possível sem a minha agência, a Horizontes Turismo (: Se eu não me engano, teremos outro passeio para lá no início de 2015. E se você correr pode ser que ainda consiga um lugarzinho!

No próximo post, vou falar sobre a minha cidade preferida. Alguém tem alguma ideia de qual seja?


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